CAPÍTULO VIII
— Vamos parar para comer alguma coisa.
Demi concordou com a cabeça.
Eles estavam viajando de carro através de uma autoestrada do
norte da França, margeada de tantas árvores que o caminho parecia interminável.
Nicky havia adormecido no banco de trás, e o silêncio pesava sobre eles.
Ela não queria ter vindo para essas férias. Achava tudo
aquilo muito arriscado... Desde que admitira que ainda amava Joe, fazia um
esforço sobre-humano para manter-se fria e indiferente. Sentia-se cansada de
representar e temia que ele pudesse perceber que o desejo e as necessidades de
seu corpo a cada dia tornavam-se mais intensos e evidentes.
Eles estavam viajando desde manhãzinha, por isso ela se
sentiu bastante aliviada ao poder esticar as pernas quando pararam para almoçar
numa cidadezinha francesa. Embora não quisesse admitir, era uma tranquilidade
saber que Joe se encarregara de tudo. Ele providenciou rapidamente um lugar
onde pudessem comer e explicou ao garçom, num bom francês que desejava uma
refeição leve para Nicky.
Foram conduzidos a um pátio sombreado por glicínias que
espalhavam seus galhos floridos pela parede branca do restaurante e, apenas a
alguns metros dali, um riacho de águas límpidas corria calmamente em direção ao
mar. À paisagem era belíssima.
Demi se sentia cansada até mesmo para olhar o cardápio e
simplesmente pediu a Joe que escolhesse por ela.
Ele franziu a testa e por um momento pôde perceber certo ar
de preocupação em seu rosto.
Naturalmente Joe deve estar imaginando como vai cuidar de
Nicky se por acaso eu ficar doente, pensou com sarcasmo.
Enquanto tomava a sopa fria que o garçom trouxera, Demi
imaginava como seria a madrinha dele. Joe havia falado pouco a respeito dela, a
não ser que todos os anos procurava passar alguns dias em sua companhia. Sabia
ainda que era viúva e morava no sul da França. Demi pensou logo numa senhora
idosa, de porte nobre, bem penteada e maquilada e muito elegante, seguindo a
moda francesa.
Tudo isso há deixava um pouco apreensiva e com receio de
conhecê-Ia.
— Termine sua sopa — ordenou Joe, trazendo-a de volta à
realidade.
Ela o olhou surpresa, só então percebendo que havia afastado
o prato sem tocá-Io.
— Você está muito magra. Heloise terá um ataque quando avir.
— Heloise?
— É a cozinheira, criada, confidente e amiga da minha
madrinha. Elas vivem juntas desde que tia Marian se casou.
— Espero não incomodá-Ias muito. — Ela ficou preocupada
quando pensou no barulho e na intromissão de Nicky dentro do mundo organizado e
calmo de duas senhoras de idade.
— Não se preocupe, elas irão gostar da nossa visita, a menos
que Heloise me acuse de matar você de fome. — disse ele secamente. — E se você
conseguir disfarçar esse ar de vítima será um favor!
Demi terminou a refeição em silêncio. Parecia que Joe sentia
prazer em fazê-Ia passar por uma criança mimada e exibicionista que procurava
chamar a atenção para conquistar a simpatia dos adultos.
No pátio sombreado, o sol já estava ficando bastante quente
e instintivamente ela olhou para a cabeça desprotegida do filho, pensativa. O
menino tinha sorte em ter o mesmo tipo de pele resistente do pai, por isso
raramente o sol lhe fazia mal. Entretanto, ela havia tomado a precaução de
providenciar um boné e algumas camisetas frescas para o caso de Nicky se
expor em excesso àquele sol. A pele dela, ao contrário, era bastante sensível,
mas Demi procurava sempre ter cuidado para não se exceder e queimar demais.
Como se tivesse lido os pensamentos dela, Joe disse
repentinamente:
— Venha sentar aqui na sombra. Você está muito branca, e eu
não quero que pegue uma insolação.
— Eu não sou nenhuma criança! — protestou ela, mas ele fez
uma cara de quem não acreditava e olhou para o prato que Demi mal havia tocado.
— Não? Você deliberadamente quase pegou uma estafa,
recusa-se a comer o mínimo necessário, e então se senta ao calor do sol do
meio-dia. Não, não é criança realmente! Ele falava com ironia e severidade.
— Eu não ficarei doente. Não posso! Quem cuidaria de Nicky?
— Termine seu almoço. — Ele parecia muito aborrecido e Demi
imaginou que ele estivesse pensando em como seria difícil cuidar de uma
criança.
Viajaram ainda durante toda à tarde, parando apenas em
Avignon, onde passariam a noite.
Demi estava tão cansada que nem conseguiu apreciar direito a
cidade.
Por que será, pensou ela, que ficar sentada o dia inteiro
sem fazer nada é cansativo desse jeito? Observou Joe tirando Nicky do carro. Embora
ele tivesse dirigido o tempo todo, não parecia abatido. A camisa fina estava
colada aos músculos fortes das costas; as mangas curtas revelavam os braços
bronzeados e as pernas compridas e sensuais eram realçadas pela calça justa.
Ela também usava calça e camisa, só que sua roupa, em vez de
mostrar um corpo incontestavelmente másculo, revelava curvas muito femininas
que atraíam a atenção de vários homens enquanto eles atravessavam a rua e
entravam no hotel.
Diante da insistência de Demi, Joe havia reservado dois
quartos.
— Do que você tem medo? — ele havia perguntado, e ela não
ousou confessar que temia a si própria.
Se eles dividissem uma única cama, mesmo que platonicamente,
Demi estava certa de que durante a noite acabaria inconscientemente
aproximando-se dele sem poder responsabilizá-lo pelas consequências.. .
Cada quarto tinha uma cama de casal e um banheiro, e ela
levou Nicky para um deles, deixando Joe ficar com o outro. Já havia tirado a
roupa de Nicky quando percebeu que a mala dela estava no quarto de Joe. Bateu
na porta e, como não obteve resposta, deduziu que ele deveria ter saído por
algum motivo e então entrou. .
Ela estava se abaixando para pegar a mala do lado da cama
quando a porta do banheiro foi aberta, e Joe surgiu. Seus cabelos estavam
molhados e despenteados, e gotas de água escorriam pela pele saudável. Demi
ficou vermelha ao ver aquele corpo nu, mas, inconscientemente, demorou em
desviar o olhar. Sentiu-se fraca e trêmula, com a boca seca por causa da tensão
que a envolveu.
— Pronto você já pode me olhar sem chocar essa sua
mentezinha frígida — disse ele, vestindo um roupão curto de toalha, o que não a
impediu de visualizar e pensar no que havia por baixo dele.
Demi sentia enorme necessidade de tocar aquela pele dourada,
de experimentar o poder daquela masculinidade...
Ela suspirou nervosa, e apontou a mala.
— Eu vim por causa da...
— E para o que mais? — zombou ele. — Quero deixar uma coisa
bem clara, Demi. Quando estivermos na casa da minha madrinha, dividiremos um
único quarto. Ela pensa que nosso casamento é normal e feliz e isto inclui
também sexo, naturalmente!
Ela o encarou horrorizada.
— Mas nós não podemos!
— Por que não? Eu nunca disse que esse casamento seria
apenas no papel. Fique tranquila, isso não a matará.
Ela pensou no que sentia por ele e concluiu que seria
impossível dormir na mesma cama mostrando-se indiferente. Joe a alcançou e
começou a acariciar-lhe o pescoço. Aquele corpo úmido e quente pressionava o
dela com volúpia.
— Nós estamos casados — disse ele suavemente —, e não
pretendo passar o resto da minha vida como um monge. Pense em Nicky. Certamente
você não quer privá-lo do prazer de ter alguns irmãozinhos, quer?
Demi hesitou, atormentada pela sedução que ele exercia.
Seria tão fácil ceder, sentir na própria pele o calor da pele dele, entregar-se
à forte exigência física que a dominava.
Perdida em meio à indecisão, ela permitiu que Joe lhe
inclinasse a cabeça e lhe acariciasse o pescoço com os lábios úmidos. Fechou os
olhos, deixando-se envolver por uma fantástica rede de prazer.
— O que você está fazendo com minha mãe?
Ela abriu os olhos e, em outras circunstâncias, teria rido
da raiva de Nicky quando ele se voltou para Joe.
— Você me deixou sozinho! — acusou ele. — Faz tempo que você
saiu.
— Pela última vez você é salva pelo gongo — murmurou Joe ao
ouvido dela. — Vamos, eu carregarei você de volta ao quarto — ele se dirigiu ao
filho, inclinando-se para pega-lo. — Nós não terminamos e da próxima vez farei
o que disse — preveniu ele.
Quanto mais para o sul eles viajavam, mais árida se tomava a paisagem. Demi estava ciente de uma tensão nervosa que não era inteiramente relacionada com o encontro próximo com a madrinha de Joe. Ele não havia feito mais nenhum comentário sobre a noite anterior, mas ela sabia que a decisão dele era definitiva e, pior ainda, sentia que o próprio corpo desejava que Joe se impusesse fisicamente e a possuísse com paixão, desobrigando-a do risco de ela mesma tomar a iniciativa. Ele já havia percebido a fragilidade da resistência dela e estava apenas ganhando tempo e esperando o momento oportuno para cumprir as ameaças...
Eles atravessaram a Côte d'Azur, que ostentava seus
ciprestes, carvalhos, antigas oliveiras e os característicos pinheiros. O calmo
silêncio dominava a região e por toda a parte podiam se ver suntuosas mansões
protegidas por portões de ferro batido.
Em Nice, o brilho e o esplendor da Côte d'Azur explodiram
surpreendentemente diante dos olhos despreparados de Demi, ao deparar com uma
riqueza inacreditável, desde a cor dos carros luxuosos que enchiam a cidade até
as joias exibidas por corpos bronzeados e sedutores.
— Em Nice, a maioria de todo esse brilho é do ouro maciço de
vinte e dois quilates — Joe comentou.
Eles pegaram uma estrada que dava a volta por trás dos
rochedos de calcário, uma região que precedia os Alpes.
Toda vez que faziam uma curva, Demi fechava as olhos, só
para depois reabri-Ias e deliciar-se com a vista magnífica do azul do
Mediterrâneo que se espalhava abaixo deles.
Aproximadamente vinte minutas após terem deixado Nice, já
haviam chegado a St. Jean com sua tranquilidade inabalável e o porto pitoresco.
Nicky nunca tinha se aproximado do mar, só do lago. Do
parque Regente, e, embora a travessia do canal não o tivesse impressionado
muito, a visão daquele porto repleto de iates deixou-o boquiaberto.
— Sua madrinha deve ser muito rica — comentou demi, incapaz
de conter a curiosidade. Eles estavam passando por luxuosas propriedades, na
região mais bonita que ela já tinha visto, e a cada minuto ficava mais
apavorada por ter de conhecer a madrinha de Joe.
— Relativamente. O marido dela era um próspero. Homem de
negócios. Morreu juntamente com meus pais num acidente de barco... Marian não
havia ido com eles para cuidar de mim. Na época eu tinha doze anos e nunca
esqueci a expressão do rosto dela quando me deu a notícia. Eu até cheguei a
culpá-Ia pelo acidente, pois o convite partira dela. Precisou ter muita
paciência comigo. No final, Heloise me fez sentir que eu não era o único que
estava sofrendo.. Quando se vive uma tragédia dessas com alguém, forma-se uma
ligação profunda e indissolúvel. Marian acabou tomando o lugar dos meus pais.
Todas as férias da escola eu passava com ela. Você descobrirá que ela é uma
senhora muito romântica — acrescentou. — A felicidade dela significa muito para
mim, Demi. Não a desiluda, por favor. Marian acredita que nós somos uma família
feliz e cheia de amor. Estou tentando lhe avisar que, se você quebrar essa
ilusão, eu nunca lhe perdoarei.
Eles atravessaram os portões de ferro batido e dirigiram se para uma casa que fez Demi prender a respiração numa mistura de encantamento e assombro. De um lado, podia-se ver o mar, e do outro, Nice. As paredes eram cobertas por antigas trepadeiras, e as janelas se abriam para um ar suavemente perfumado.
Logo que o carro parou, uma mulher alta e elegante desceu
graciosamente a escadaria em frente à casa; embora estivesse muito bem-vestida,
não correspondia em nada à imagem que Demi havia formado. Quando Joe saiu do
carro, ela correu para abraçá-Io e olhou-o com afeição, antes de ir ao encontro
de Demi do outro lado do automóvel.
— Perdoe-me, querida, esqueci as boas maneiras! — exclamou
ela. — Bem-vinda à Vila Jardim. — Um braço bronzeado indicou os jardins
bem-cuidados que rodeavam a vila; cobertos de oleandros e hibiscos, buganvílias
repletas de flores que contrastavam com os muros de pedra clara. — E este deve
ser Nicky!
O menino olhou-a, confuso, e Demi sentiu um nó na garganta
quando Marian se voltou para Joe e disse:
— Oh, meu querido, ele é tão parecido com você! Você quer
vir comigo e tomar um refresco? — perguntou a Nicky.
Obviamente ela está acostumada com crianças, pensou Demi com
alívio. Marian não forçou Nicky a tomar uma decisão, até que ele olhasse para
ela com mais familiaridade e anunciasse solenemente:
— Quero!
— Oh, espere até que Heloise os veja! — Marian deu um
sorriso. — Ela está na cozinha preparando seu jantar favorito — informou ela a
Joe.
— Vocês vão ficar na suíte mimosa, onde poderão sentir-se à
vontade e bem isolados. Tem uma sala que dá para os jardins e de lá uma escada
que conduz à nossa praia particular. Ela é um pouco acidentada, por isso nós
temos a piscina. E você não deve se preocupar com Nicky. Heloise e eu adoraremos
tomar conta dele. Joe me disse que você não tem passado muito bem e que precisa
descansar bastante. Parece mesmo, pobre criança!
Joe estava tirando a bagagem do carro e os olhos de Joe
pousaram traiçoeiramente sobre os músculos tensos daquelas costas fortes...
— Joe comentou que vocês não tiveram tempo de ter uma. Lua
de mel — acrescentou Marian, deixando Demi desconcertada. — Espero que estas
férias pelo menos sejam compensadoras. Agora eu vou levar Nicky até Heloise.
Embora ela jamais admita, tem uma fraqueza por crianças e vai mimá-Io
terrivelmente.
Demi seguiu sua anfitriã por um corredor azulejado que ia do
pátio até uma sala decorada em tons de damasco e creme.
— Você deve estar querendo uma xícara de chá — ofereceu
Marian com simpatia. — Vou pedir a Heloise que nos sirva enquanto Joe coloca a
bagagem lá em cima.
Nicky andava de um lado para o outro da sala, olhando cheio
de curiosidade para os elegantes abajures de porcelana chinesa, e Demi lhe
ordenou que não tocasse em nada.
A porta se abriu e uma mulher que Demi deduziu ser Heloise
entrou na sala carregando uma bandeja com chá.
Alta e forte tinha cabelos escuros jogados para trás,
ressaltando um rosto marcadamente oval. Ela correu os olhos por Demi, parecendo
estuda - la.
Marian as apresentou e Demi teve a impressão de que Heloise
era o tipo de pessoa que expressava claramente seus sentimentos. Principalmente
se achasse que algo ou alguém poderia perturbar a dona da casa.
— E este é Nicky — apresentou Marian, chamando o garoto.
Quando Heloise olhou para ele, Demi percebeu um olhar de
aprovação, ficando surpresa por Nicky rapidamente concordar em ir para a
cozinha com ela para tomar um copo de suco de laranja.
— Ela se dá bem com as crianças — explicou Marian quando
eles saíram. — Heloise só consegue se descontrair quando brinca com crianças, e
acho que elas também gostam disso. Eu nem posso lhe dizer quanto estou feliz
com o casamento de vocês — acrescentou, servindo uma xícara de chá para Demi. —
Mas Joe estava certo...
— E alguma vez eu errei? — perguntou Joe, abrindo a porta.
Ele tinha trocado a camisa e a calça, e Demi tremeu de excitação. — Porém
concordo que desta vez acertei em cheio!
— Demi — disse Marian com um sorriso —, você deve descansar
um pouco. Não se preocupe com Nicky, está bem? E se vocês dois quiserem sair
sozinhos, ele estará seguro conosco. Você deve cuidar de sua pele, querida.
Parece que se queimou demais. Meu farmacêutico prepara um creme excelente para
evitar queimaduras. Amanhã vou para Nice e aproveitarei para encomendá-Io, o
que me faz lembrar que eu ainda não lhes comprei um presente de casamento.
— Não tem importância! — respondeu Joe. — Enquanto não
acharmos um lugar fixo para morar, não temos onde guardar nada. Mas você pode
levar Demi para que ela compre um biquíni. Minha esposa tem um corpo muito
bonito, e eu não gosto de vê-Ia com roupas que não lhe ficam bem.
Marian se alegrou.
— Uma corrida pelas lojas? Ótimo, eu adoraria acompanhá-Ia!
Acho que agora é um pouquinho tarde para fazer um enxoval. — Ela riu. — Mas
como essa é praticamente a lua de mel de vocês, penso que podemos abrir uma
exceção, não é mesmo?
— Na verdade, não é necessário — começou Demi, porém o
desapontamento estampado no rosto de Marian e a expressão de aviso nos olhos de
Joe a forçaram a mudar de ideia. — Mas é claro que se realmente não se
importar...
Quando ela terminou de tomar o chá, Marian sugeriu que Joe
fosse lhe mostrar os quartos.
— Nicky estará bem com Heloise e se vocês quiserem descansar
um pouco ela cuidará dele. Aproveitem meus queridos!
Apesar de já estar preparada para ver muito luxo, Demi ainda
ficou assustada ao descobrir que a suíte mimosa era, na verdade, um enorme
quarto de casal com banheiro privativo, uma parede toda forrada de armários
embutidos, um quarto de vestir conjugado, que Marian havia decorado lindamente
para servir de quarto para Nicky, mais uma sala de estar muito bem-mobiliada
com vista para Nice e um caminho que conduzia à piscina. Além disso, havia uma
entrada própria que dava na vila.
— Eu preciso perguntar a Marian se o portão que leva à praia
é à prova de crianças — disse Joe, enquanto Demi olhava, admirada pela janela.
— Aqueles degraus são muito altos para uma criança, e as rochas podem ser
perigosas.
Ele sabe nadar?
Demi respondeu que não. Algumas vezes, ela levara Nicky à
piscina pública, mas sua falta de tempo não permitiu que ele a frequentasse com
mais regularidade.
— Bem, eu o ensinarei enquanto estivermos por aqui. Todas as
crianças devem aprender a nadar antes que cheguem à idade de sentir medo.
Os tons creme e adamascado pareciam dominar a vila, notou
Demi enquanto tirava as roupas da mala e colocava no enorme armário embutido. A
colcha e as cortinas tinham um motivo chinês nas cores damasco e verde, com
fundo creme, e esse mesmo tema se repetia no banheiro em preto e creme.
Ela parou ao olhar para a cama. Estremeceu só de pensar que
naquela noite estaria dormindo ao lado de Joe.
— Por que você não descansa antes do jantar? — sugeriu Joe,
entrando no quarto. — Eu quero conversar um pouco com Marian.
E com certeza eu não sou desejada, pensou Demi com tristeza.
Ela tomou um banho e se deitou na cama, tendo o cuidado de
fechar a porta do quarto. Pretendia repousar por pouco tempo antes de se
vestir, apreciando o ar fresco sobre sua pele, mas estava com tanto sono que
acabou fechando os olhos. Ainda fez uma tentativa para pegar o robe, mas
adormeceu antes que pudesse fazê-Io.
Um vento frio bateu em seu pescoço, e Demi acordou.
Passaram-se vários minutos até que ela conseguisse lembrar
onde estava. Olhou assustada para o relógio, incapaz de acreditar que havia dormido
aquele tempo. Joe! Será que ele tinha vindo procurá-Ia e encontrara a porta
fechada? E Nicky? O que Marian e Heloise pensariam dela? Olhou para a janela e
percebeu que as cortinas estavam fechadas. Não se lembrava de tê-Ias fechado, e
seu coração disparou quando viu um vulto surgir das sombras do terraço e vir em
sua direção.
—
Finalmente você acordou.
Joe! Apressadamente ela tentou pegar o robe, mas ele o
alcançou primeiro, medindo-a de cima a baixo e dizendo:
— Ah, não! Não faça isso... Você fica tão mais atraente sem
ele. Quando entrei aqui e a vi tão tentadora, deitada na minha cama, pensei que
as coisas fossem melhorar.
— Não entendo como pôde entrar. Eu tranquei a porta. — Eu
sei que você trancou, mas você se esqueceu da outra entrada, minha querida
esposa. Agora, como Eva tentou Adão com o fruto proibido, você despertou todo o
meu apetite.
Ela tentou se afastar, mas Joe foi mais rápido. As mãos dele
escorregaram pela pele macia de Demi até segurar-lhe a cintura. Seu coração batia
tão forte que ela pensou que ele pudesse ouvi-Io, percebendo as exigências que
aclamavam por aquele corpo.
— Eu disse a tia Marian que você não queria jantar começou
ele suavemente. — Você não imaginou que eu pudesse arrombar a porta quando
colocasse os olhos nesse corpo sedutor? Que pena que você já tomou banho!
Riu ao notar o tremor que a invadiu quando ele passou os
dedos pelo estômago dela, antes de se deitar a seu lado.
— Tão tímida e encabulada! Se não fosse por Nicky e algumas
recordações particularmente agradáveis, eu poderia até jurar que você é virgem.
Lembra-se do que me disse daquela vez? Como me pediu com doçura para que eu a
possuísse completamente e como gritou de prazer quando eu o fiz?
Suas mãos se moviam vagarosamente para cima e para baixo,
acariciando delicadamente os seios sensuais. — Você lembra, não lembra? —
perguntou ele, junto ao ouvindo dela, com voz doce e sedutora.
Demi tentou afastá-Io, a palma das mãos tremendo ao sentir o
calor do corpo dele.
— Não! — Demi não sabia se essa resposta era uma negação
para as palavras eróticas que ele dizia ou para o que ela mesma estava
sentindo, porém Joe pareceu não ter dúvidas... Deitou-se sobre ela, prendendo-a
com o peso do corpo e tentando encará-Ia.
— Não? — repetiu suavemente. — Então tenho de fazê-Ia
relembrar... O ambiente era semelhante, nós estávamos deitados numa cama. Mas
daquela vez você me pediu para deixá-Ia sentir todo o meu corpo contra o seu
sem a interferência das roupas...
— Não! — gritou Demi, desesperada. — Eu nunca falei nada
disso! .
— Talvez você não tenha falado em alto e bom som, mas seu
corpo dizia claramente ao meu que era isso o que você queria. Eu até me lembro
de que você me ajudou a tirar a camisa. Assim... — Joe disse com voz rouca,
levando a mão dela até o próprio peito. Ele tirou a camisa de dentro da calça,
puxando a mão de Demi para que sentisse o calor de seu corpo.
O coração dela batia cada vez mais acelerado ao lembrar o
passado. Joe murmurou:
— Agora me mostre o que vem a seguir.
Por alguns momentos ela fantasiou, imaginando o que
aconteceria. As mãos deslizando suavemente sobre a pele de Joe, os dedos
acariciando cada centímetro daquele corpo, ignorando as ordens do cérebro para
parar com aquela exploração sensual e canalizar as energias para expulsar
aquela invasão masculina dominadora.
— Você ainda está envergonhada? — perguntou ele. Levantou-se
um pouco para estudar o delicado contorno do corpo dela. — Eu me lembro de ter
enfrentado o mesmo problema da última vez, apesar de termos conseguido
superá-Io. Tire minha roupa, Demi. Adoro sentir você me tocando.
Ele a beijou apaixonadamente com os olhos brilhantes de
desejo.
— Você me quer, querida?
Demi fez que sim com a cabeça, não confiando em si para
falar. Seu corpo inteiro tremia incontrolavelmente.
— Ah, muito bem — murmurou Joe. — Agora nós estamos chegando
àquela mulher que você escondeu por tanto tempo. Ela não era fria, era, Demi? .
Ela sentia que não poderia mais resistir, mesmo que
tentasse, e escorregou as mãos, tateando, até os quadris de Joe.
— Hum... Eu sei — ele sussurrou, afastando-se levemente.
— Assim é melhor?
Joe pegou as mãos dela e levou-as até o próprio ventre.
Quando Demi o acariciou com os dedos trêmulos, ele gemeu
profundamente, antes de beijá-Ia com paixão.
De repente, ela começou a sentir uma necessidade de total
satisfação que apagou todas as outras coisas. Aproximou o corpo provocantemente
do de Joe obrigando-o a explorar cada centímetro de sua pele. Como se houvesse
passado de um mundo para outro, deixando a realidade completamente para trás,
Demi correspondeu apaixonadamente, seus lábios pressionando os dele, sentindo
cada suspiro de prazer. Dessa vez, ela não era uma jovem inexperiente que
precisava ser ensinada, e seu corpo agia por ela, experimentando sensações de
prazer nunca imaginadas.
No momento em que Joe ia possuí-Ia completamente, ela tentou
reagir, mas a luta foi curta; seu corpo se contorcia de desejo mesmo quando os
músculos se contraiam em protesto.
— Isso... Assim... Está bem — sussurrou Joe, acariciando-a
para que ela relaxasse, suas palavras confundindo-se com os gemidos de prazer
de Demi quando ela atraiu novamente o corpo dele com uma paixão sincera.
Ela adormeceu nos braços dele, com o corpo relaxado e os
lábios ainda esboçando um suave sorriso.
Quando acordou estava sozinha. As antigas recordações
voltaram no mesmo instante, e ela entrou em pânico. Não havia sinal
de Joe, e alguma coisa em seu íntimo lhe dizia que ele não estaria lá. Como num
filme, todas as imagens do passado voltaram todas aquelas lembranças
recomeçaram a persegui-Ia. Demi se sentou na cama, abraçando os joelhos com
firmeza, olhando de um lado para outro dos espelhos quando Joe entrou.
— Demi!
Ele tentou soltar os braços dela, mas eles estavam muito
tensos. Demi o encarou, revoltada. .
— Você pensou que ia deixá-Ia? — perguntou ele,
compreendendo imediatamente. — Oh, Demi... — Joe tentou abraçá-Ia, mas ela
recusou, com os olhos cheios de amargura.
— Por favor, deixe-me sozinha.
Ele ficou furioso.
— Há alguns momentos você não estava dizendo isso. Pelo
contrário...
Demi estava desesperada. Mais alguns minutos, e Joe poderia
descobrir como se sentia em relação a ele! E então riria dela!
Como um homem que se casara nessas condições poderia ser cínico
com relação ao amor! Pensou totalmente aturdida.
— Foi apenas por causa de Nicky — disse ela. — Eu não quero
que ele seja filho único!
Por um momento pensou que Ken a agrediria, pois ele ficou
pálido de raiva.
— Meu Deus, você quer dizer que... Mas é claro que foi por
Nicky. As necessidades dele vêm em primeiro lugar e, por ele, você se
sacrifica, aceitando dormir comigo! Francamente, eu não sei se devo rir ou
chorar.
— Você foi o primeiro a dizer que ele precisava de uma
família — explicou Demi, receosa. Agora, no entanto, já tinha ido longe demais
para recuar. — Era o que você também queria.
— Era? Como você sabe o que quero? Você é incapaz de saber
por que também é incapaz de sentir. Você nem imagina as necessidades que
motivam uma pessoa. Provavelmente deve até pensar que eu fingi... — Ele se
virou repentinamente. — Um dia Nicky vai crescer e então o que você vai fazer
do resto da sua vida? Em algum lugar bem no íntimo do seu ser existe uma mulher
verdadeira, e eu não vou desistir até conseguir fazê-Ia renascer.
— Por quê?
— Por quê? Talvez porque você tenha me insultado como homem.
Meu orgulho certamente não terá sossego até que eu a possua totalmente e a
torne uma verdadeira mulher. Não se preocupe, não tentarei repetir a dose esta
noite. Já aguentei demais por hoje. Você sabe como castrar um homem, não é,
Demi? Bem, vou dormir com Nicky... Não suportaria dormir na mesma cama com
você.
O que eu fui fazer? Pensou Demi, com tristeza, depois que
ele saiu do quarto. Meu Deus, tudo estava perdido! Agora Joe não descansaria
até que conseguisse subjugá-Ia e destruí-Ia completamente. Isso aconteceria se
ele quisesse levar as ameaças adiante. E ela sabia que o faria.
Quando se deitou na enorme cama, pensou em pegar Nicky e
fugir imediatamente, mas Joe estava com os passaportes e, além disso, ela não
tinha dinheiro. Se pelo menos conseguisse sobreviver a essas férias, assim que
chegassem à Inglaterra pediria o divórcio.
Adormeceu mas acordou em seguida, molhada de suor. Em seu
sonho, um juiz ordenava calmo, que Nicky fosse cortado ao meio para ficar
igualmente dividido entre os pais.
Adorei o cap:)
ResponderExcluirWOW perfeitoooooo... posta logo ok... to muito ansiosa OMG
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