CAPÍTULO X
Ao chegarem à vila, o telefone tocava. Joe atendeu e pela
conversa Demi deduziu que era Ashley. Isso foi confirmado quando ele desligou.
— Ashley pediu que eu vá buscá-Ia. Não vou demorar muito.
Demi deu de ombros, esperando que ele não notasse o ciúme
que ela sentia.
— Não tenha pressa!
Ela foi para o quarto e pôde ouvir o carro se afastando.
Só então admitiu quanto esperava que Joe tivesse se recusado
a ir. Se ele não fosse, os dois ficariam sozinhos naquele ambiente romântico...
Permaneceu ainda algum tempo junto à janela, olhando para a escuridão da noite,
e então Nicky murmurou alguma coisa enquanto dormia, o que fez com que ela se
desse conta do motivo de estar naquele lugar, casada com Joe.
Já era tarde quando ela o ouviu chegar. Puxou as cobertas,
tentando respirar como se realmente estivesse dormindo e afastando-se o mais
que podia do lado da cama onde Joe se deitaria.
Ela escutara os passos dele e procurava adivinhar-lhe cada
movimento. Pareceu uma eternidade até que Joe fechasse o chuveiro e voltasse
para o quarto. Aí então ele ergueu as cobertas e se deitou. Demi tinha vontade
de se voltar e ver o que Joe estava fazendo, mas se o fizesse ele saberia que
ela ainda estava acordada. Sentia a garganta seca de tanta tensão e, quando ele
se virou, roçando-lhe as costas, seu corpo ficou rijo numa tentativa de não
tremer.
Se não fosse por Marian, de quem ele tanto gostava e não
queria chocar ou magoar, será que nessa noite Joe estaria nos braços de Ashley?
Ele se mexeu novamente, e ela ficou gelada, arregalando os
olhos quando Joe disse zombeteiro:
— Boa noite, Demi! Sonhe com os anjos, minha querida.
Durante todo o tempo ele sabia que estava acordada! Que
prazer não teria sentido ao permitir que ela fingisse daquela maneira!
Ele me fez de boba, pensou com raiva, desejando vingar-se.
No entanto, percebeu que Joe já dormia profundamente enquanto ela, com insônia,
era atormentada pelos pensamentos do que poderia ter acontecido entre ele e
Ashley.
Sem dúvida, se eles dividissem a mesma cama, estariam um nos
braços do outro, concluiu enciumada.
Ela acordou de madrugada, envolvida por um delicioso calor,
com um som forte junto ao ouvido. Quando se mexeu, percebeu que eram as batidas
do coração de Joe. Em algum momento durante a noite, Demi devia ter se virado
para o lado dele, aninhando-se àquele corpo quente que a abraçava, com uma das
mãos sobre seus seios. Joe dormia profundamente e ela tentou se afastar, mas
ele a apertou imediatamente. Com medo de que ele pudesse acordar e descobrir o
que havia feito, Demi procurou relaxar, sem perceber que Joe sorria enquanto
ela voltava a dormir.
Quando acordou novamente Nicky estava chamando por ela.
Ainda sonolenta, pôde notar que o menino estava sentado na cama, junto dela,
com um olhar de reprovação.
— Pensei que você não ia acordar! Meu pai vai me ensinar a
nadar, e eu quero tomar o meu café, mamãe.
Demi escutou aquela exigência masculina, tentando dizer a
Nicky que o café poderia ficar para mais tarde.
— A mamãe não quer acordar — disse Nicky, dirigindo-se ao
pai, e, antes que ela pudesse protestar, as cobertas foram retiradas por uma
mão masculina.
Joe estava de pé na frente dela, vestido com jeans e uma
camisa fina de algodão desabotoada até a cintura. Ele riu quando viu a
indignação de Demi.
— Vamos, preguiçosa, levante-se! Nicky e eu já estamos
acordados há muito tempo, não é, filho?
Nicky concordou.
— O papai precisou me vestir — disse ele a Demi, com ar
acusador.
Ela olhou para o relógio. Eram sete e meia da manhã!
— Pobre papai — disse ela friamente.
Joe inclinou-se sobre a cama com malícia e murmurou:
— O papai também vestirá a mamãe se ela pedir com jeitinho.
Demi pulou da cama, e olhou-o, furiosa, quando ele riu
enquanto ela procurava pelas roupas que ia vestir.
— Não demore mamãe. Nós temos uma surpresa para você — disse
Nicky logo que ela entrou no banheiro. Posso pular nessa cama? — Demi ainda
ouviu o menino perguntar a Joe. Sentiu uma leve angústia ao pensar em Joe,
dando banho e vestindo o filho, e ela dormindo sem saber de nada.
O quarto estava vazio quando ela voltou. Rapidamente ajeitou
a cama, indo para o quarto de Nicky para arrumá-Io. Héloise havia dito para que
não se preocupasse com isso, que ela estava na vila passando férias, mas a
força do hábito a fazia executar essas pequenas tarefas domésticas
automaticamente.
Demi mostrou-se satisfeita ao notar diante do espelho que
sua pele já estava levemente bronzeada. Escovando os.
cabelos, reparou que seus olhos brilhavam suavemente...
Era óbvio demais que ela apresentava os sintomas
inconfundíveis de uma mulher profundamente apaixonada. Precisava redobrar os
cuidados para que Joe não descobrisse aquela verdade. .
Quando foi para o jardim, todos já esperavam por ela.
O rosto de Nicky exprimia excitação e impaciência.
— Posso falar agora? — perguntou ele ao pai.
Joe concordou e, quando Demi o olhou, curiosa Nicky gritou:
— Feliz aniversário, mamãe! Venha ver o que comprei para
você!
De repente ela se deu conta de que, com o casamento e as
férias, tinha esquecido completamente de seu aniversário.
Nicky estava muito excitado e só nesse momento Demi percebeu
a pequena pilha de presentes ao lado de seu prato.
Sentiu um nó na garganta. Há muito tempo ninguém se lembrava
do aniversário dela.
Joe levantou-se e caminhou em sua direção, enquanto ela
tentava conter as lágrimas. Marian estava sorrindo compreensiva, e Demi não
teve vontade de se afastar quando Joe segurou-lhe a mão, enlaçando seus dedos
carinhosamente.
Quando o olhou, Demi sabia que era ele o responsável por
aquela surpresa e recordou-se dos longos dias quentes de verão que partilharam
anos atrás, quando Joe lhe oferecera lindas rosas e um delicado frasco de
perfume, brindando o aniversário dela com champanhe francês...
Fazia tanto tempo! Mesmo assim sentia-se emocionada por ele
ter lembrado.
— Abra o meu primeiro — pediu Nicky. — É aquele! Ele apontou
um pequeno pacote embrulhado com um bonito papel cor-de-rosa e laços prateados.
Era uma echarpe azul degradê, muito bonita e sofisticada, e
Demi adorou-a.
— Eu e papai escolhemos — disse Nicky, todo importante.
— Você gostou?
— Adorei meu amor! — Demi deu-lhe um beijo.
Havia cartões de felicitação de Héloise e François e um
perfume delicioso como presente de Marian, além de uma fotografia de Nicky
emoldurada por um lindo porta-retratos prateado.
— Oh, você não deveria ter feito isso — protestou ela
impulsivamente, beijando Marian com doçura. — Muito obrigada.
— Por falar nisso, onde está Ashley? — perguntou,
determinada a não deixar que notassem seu embaraço por saber que não haveria
nenhum presente de Joe.
— Ashley ainda não levantou — disse Marian, interrompendo
aqueles pensamentos tristes. — E você, Joe, não comprou nada para Demi?
Ela desejava que essa pergunta jamais tivesse sido feita.
Mas Marian imaginava que o casamento deles fosse
perfeitamente normal e esperava atenção e gentileza de Joe para com a esposa.
— Comprei, sim — respondeu ele, deixando Demi surpresa. Ele
parecia se divertir ao ver o rosto vermelho dela. — Porém, para evitar que ela
fique constrangida, achei melhor entregar o presente quando estivermos
sozinhos. Na verdade — ele se levantou —, eu ia lhe pedir para fazer companhia
a Nicky enquanto nós vamos até o quarto.
Marian riu e disse-lhe que ele estava deixando Demi corada.
— Eu sei — foi à resposta dele. — E gosto muito disso!
Não havia jeito de Demi recusar aquele convite e, com um
sorriso forçado, agradeceu a Marian por cuidar de Nicky.
Levantou-se e seguiu Joe.
Quando ele abriu as janelas da sala de estar do quarto, ela
hesitou, e Joe a encarou.
— Assustada? Fique tranquila! Espero com meu presente
despertar aquela mulher maravilhosa há tanto tempo adormecida. Aqui está.
Tomara que goste!
Ele lhe entregou um grande pacote embrulhado com papel de
seda vermelho e amarrado com fitas brancas.
Demi apanhou o pacote, confusa, passando os dedos pelo papel
pensativamente.
— Abra — pediu Joe com suavidade. — Marian não descansará
até que saiba o que é. Você realmente consegue ser uma mulher intrigante —
acrescentou ele quando viu que ela permanecia imóvel com o pacote nas mãos. —
Qualquer outra mulher estaria morrendo de curiosidade.
Percebendo que não poderia sair do quarto até que abrisse o
pacote, Demi hesitou ainda um pouco antes de desmanchá-Io. Surpreendeu-se ao
ler o nome da loja, mas isso não foi nada em comparação à expressão que fez ao
abrir a caixa e ver, espantada, seu conteúdo. Seus dedos passearam sobre um
delicado sutiã em cetim cor de damasco debruado com renda branca, uma calcinha
da mesma cor, tão sumária que ela achou-a indecente, uma cinta-liga rendada,
também minúscula, e um par de meias de náilon com risca. Havia ainda uma
camisola de seda finíssima e um négligé combinando, mas Demi mal conseguia
tocá-Ios. Seu rosto passou de pálido para um vermelho intenso quando viu todas
aquelas peças de seda pura.
— Como você ousou me comprar um negócio desses? Perguntou
finalmente, com a voz embargada de tanta fúria.
— Como se atreveu?
— Eu queria que se lembrasse de que era feminina — disse
Joe, que estava de pé olhando para ela, com as mãos nos bolsos da calça,
aparentemente descontraído. Mas Demi percebeu que ele demonstrava certa
ansiedade, o que a deixou angustiada. — Ou foi apenas para lembrar a mim mesmo
— continuou o rosto alterado pela raiva, quando ela subitamente jogou a caixa
no chão. — Não havia nenhum outro motivo especial.
Demi não sabia exatamente por que tinha ficado tão furiosa
com o presente. Talvez pelo fato de nunca mais ter pensado em si mesma desde o
nascimento de Nicky... Ultimamente suas roupas íntimas eram muito simples e
baratas. Não pôde mais se dar ao luxo de escolher lingeries atraentes e nem
mesmo se sentia motivada. Ao ver aquelas delicadas peças de seda, lembrou que
um dia havia desejado vestir-se apenas para agradar aquele homem... '
— Saia daqui — disse ela, calma. — Não existe nenhuma mulher
adormecida, Joe, você a destruiu completamente. Virou de costas e, quando se
voltou, ele já havia saído. Como uma sonâmbula, pegou as peças de seda,
dobrou-as e guardou-as novamente na caixa. Seria o presente ideal para Ashley,
não para ela! Abriu uma gaveta e escondeu a caixa cuidadosamente antes de
retomar ao jardim.
— Tudo bem, Demi? — perguntou Marian, preocupada. — Você me
parece um pouco pálida.
— Estou bem. Onde está Nicky? — Ela olhou em volta à procura
do filho.
— Oh, Ashley queria ir até Nice, por isso Joe a levou e
Nicky foi junto com eles. — Marian estava aborrecida. — Sinto muito por Ashley
ser tão inconveniente, querida. A mãe dela é uma velha amiga minha, mas a filha
nunca me agradou muito. .
— Ela me parece fanática por homens — comentou Demi
secamente, adivinhando o que estava preocupando sua anfitriã. — Estou certa em
pensar que ela e Ken já tiveram um relacionamento mais íntimo?
Marian deu um leve sorriso.
— Como você é sensata, minha querida, achei que fosse se
incomodar somente com as investidas de Ashley. Posso lhe afirmar que Joe nunca
sentiu nada além de um interesse passageiro por ela. Foi durante um verão em
que ele esteve muito doente, e, naquela época, eu mesma a encorajei. Queria
vê-Io curado e tentaria qualquer saída para que se reanimasse. Foi uma fase
terrível. E receio de que eu tenha ficado muito magoada com você, Demi. De
fato, hoje posso ver que você é bem diferente da mulher que eu imaginava.
— Magoada comigo? — perguntou Demi, assustada. — Acho que
não estou entendendo.
Marian pareceu um pouco confusa.
— Oh, minha querida, não quero tocar em feridas antigas,
mas, quando Joe chegou da África doente daquele jeito, eu tinha certeza de que
você era a única culpada. Você sabe, ele já havia me contado sobre a primeira
carta, mas eu o persuadi a escrever novamente. Achava que você acabaria
cedendo. Ele me colocara a par de tudo. No entanto, quando a carta dele voltou
sem resposta... Bem, cheguei mesmo a odiá-Ia. — Calou-se ao ver o rosto pálido
de Demi. — Oh, querida, sinto muito! Não deveria ter tocado nesse assunto.
Joe me avisou para não...
— Estou contente por você ter me contado — disse Demi, com
voz trêmula — porque, acredite, eu nunca escrevi para Joe em toda a minha vida.
Não depois de ele ter me abandonado, deixando-me sozinha para enfrentar a
imprensa. Nem mesmo quando eu soube que esperava um filho e todo mundo parecia
estar contra mim. Jurei nunca fazê-Io. Ele havia deixado bem claro que não
queria mais nada comigo...
— Nada com você, Demi? Minha filha, você está redondamente
enganada — interrompeu Marian, zangada. -Como, se depois que voltou doente da
África ele só pensava e falava em você? Pensei que nunca mais pudesse se
recuperar e escrever para você foi minha última esperança. Imaginei que vendo
você e ouvindo sua voz teria vontade de
Viver... Era como se quisesse morrer, mas o corpo dele
reagiu, mesmo contra a própria vontade.
— Por favor... Do que você está falando? Joe me deixou
depois de vasculhar o apartamento em busca de provas que ele precisava para o
caso Myers, e eu nunca mais o vi. Acordei naquela manhã... — Ela
interrompeu-se, levemente corada — esperando encontrar-me nos braços dele e em
vez disso estava completamente sozinha. Mas no final daquele dia a história de
Joe já estava estampada em todos os jornais e eu estava sendo interrogada
incessantemente pela polícia que queria saber qual era meu envolvimento no
caso.
Marian suspirou.
— Oh, minha querida, sinto muito! Compreendo agora por que
você se sentiu tão magoada.
— Esperei que ele entrasse em contato comigo — continuou
Demi como se Marian não tivesse falado. — Durante todo o tempo que o caso ficou
nos tribunais eu ainda tinha esperança de vê-Io, porem não aconteceu nada...
Absolutamente nada!
— Minha pobre criança! — Marian olhou-a com compaixão. —
Como ele poderia entrar em contato com você? Depois que a notícia explodiu, Joe
foi enviado pelo jornal para ser correspondente de guerra em Angola,
substituindo um jornalista que havia sido ferido e passava muito mal. Ele lhe
pediu tempo... Tempo para explicar a você por que não tinha sido capaz de lhe
contar sobre o caso Myers, mas eles foram inflexíveis. Poucos aviões recebiam
permissão de entrar e sair de Angola e ele foi obrigado a partir naquela mesma
manhã.
— Ele poderia ter feito alguma coisa antes de partir.
Escrito algum bilhete...
O olhar de Marian era confuso.
— Mas ele escreveu um bilhete! Ele mesmo me contou, embora
com relutância. Joe não é o tipo de homem que faz confidências com os outros,
mesmo que sejam amigos íntimos. Ele escreveu pedindo que você confiasse nele e
o esperasse, dizendo que explicaria tudo logo que voltasse.
— Eu não recebi nada — disse Demi vagarosamente, tentando se
recordar da exata sequencia dos acontecimentos daquela terrível manhã. Havia
chegado correspondência naquele dia? Sim, havia algumas cartas para Ashley, e
ela as deixara na cozinha. Entretanto, ao voltar, Demi notou que não estavam
mais lá. Um dos vizinhos a procurou e informou-lhe que Ashley tinha saído na
companhia de alguns policiais. Ashley! O sangue subiu-lhe ao rosto. Será que a
carta de Joe chegara durante a manhã e Ashley a lera?
Será que por amargura e ressentimento ela a havia destruído
ou guardado como um meio de vingar-se mais tarde de Demi, que inocentemente
tinha sido causadora da ruína do irmão dela?
— Em que você está pensando? — perguntou Marian astutamente.
— Uma colega que morava comigo, cujo irmão foi condenado.
Ela voltou ao apartamento naquele dia.
— E ela pode ter pego a carta? Claro! Joe disse que deixou
instruções para que fosse entregue em suas mãos.
— Mas isso não explica por que ele não tentou entrar em
contato comigo depois. Com certeza...
— Ele não podia — disse Marian gentilmente. — Quando estava
em Angola, Joe foi preso e permaneceu na prisão por seis meses. Finalmente,
conseguiu fugir e alcançar a fronteira, onde foi encontrado delirando. Demorou
mais seis semanas até que tivesse alta do hospital. Ele estava macérrimo e
havia contraído uma febre violenta. Por um longo período parecia ter perdido a
memória, e só quando chegou aqui para se recuperar é que fiquei sabendo do
relacionamento de vocês. Ele me contou todos os detalhes, mas fique tranquila.
Demi a olhou espantada, e Marian acrescentou:
— Bem, eu disse que Joe havia contraído uma febre terrível e
por isso delirava muito. Não era preciso ser inteligente para descobrir que a
"Devonne" por quem ele chamava continuamente tinha grande importância
na vida dele. Quando se recuperou, eu lhe falei sobre o assunto, e Joe então me
contou tudo. Estava muito amargurado com os acontecimentos. Havia pedido ao
editor do jornal que esperasse até que tivesse tempo de contar a você para
publicar a história, mas eles sabiam que, se não o fizessem imediatamente,
outra pessoa o faria. Por algum tempo pensei que Joe fosse morrer. Ele não se
esforçava para se recuperar e eu, desesperada, o convenci a me dar seu nome e
endereço e lhe escrevi pedindo que entrasse em contato conosco. Quando a carta
voltou sem ser aberta, Joe ficou muito transtornado, tornou-se duro e calado...
E então Ashley veio passar uns tempos conosco. Ela o fez rir novamente, e eu
sabia que ele iria viver.
Uma mistura de emoções deixou Demi quieta. Então ela disse
em voz baixa:
— Eu mudei de lá. Precisei também mudar de nome, por causa
da publicidade. Ao deixar o apartamento comprei uma casa, para viver com
Nicky... — As lágrimas escorreram pelo seu rosto. Subitamente ela estava
chorando como não fazia há anos, e Marian a confortava como a uma criança.
— Acho que você precisa de uma xícara de chá — disse ela
firmemente quando Demi conseguiu se acalmar.
Demi respondeu com um leve sorriso. .
— Um remédio para todos os males do mundo! — Demi ficou
imaginando se Marian não achava estranho que o próprio Joe não a tivesse
informado sobre tudo isso, e então compreendeu, pelo olhar sagaz dela, que Marian
não tinha sido inteiramente iludida pelos dois a respeito daquele casamento.
— Você o ama, não ama?
Demi tentou sorrir. — O que você diria se eu dissesse que
não?
— Iria chamá-Ia de mentirosa — respondeu Marian, com
sinceridade. Depois sorriu. — Como hoje é seu aniversário, Héloise está
preparando um jantar especial para esta noite. Dar conselhos sempre foi muito
fácil, Demi, mas segui-Ios é difícil. Apesar de todos os esforços que vocês
estão fazendo para esconder os problemas, posso notar que as coisas não vão
indo muito bem... Ele é um homem muito orgulhoso e acho improvável que dê o
braço a torcer mais uma vez. Procure mostrar-lhe seus sentimentos... e não se
arrependerá! Você ainda tem o elo mais importante que poderia ter... Nicky —
disse suavemente enquanto Demi parecia confusa. — Mesmo pensando que ele a
tinha abandonado você deu à luz a seu filho e ainda o ama. Permita que isso
seja a ponte de ligação entre vocês dois.
As revelações de Marian deixaram Demi pensativa pelo resto
do dia. Quando Ashley e Joe voltaram de Nice, ela ficou observando Joe ensinar
Nicky a nadar, percebendo que Ashley estava ressentida com a atenção que Joe
dispensava ao filho.
— Vamos sair para jantar esta noite? — sugeriu Ashley,
quando saiu da água com um minúsculo biquíni branco, colocando-se
estrategicamente onde Joe não pudesse deixar de notar aquelas curvas sedutoras.
— Hoje é o aniversário de Demi, e Héloise está preparando
algo especial para comemorarmos — disse Marian, com firmeza. — Mas se você
quiser sair, Ashley, sinta-se à vontade, está bem?
Por um momento Demi percebeu que Louise ficou indignada.
Então, parecendo indiferente, ela disse com desdém:
— Então é seu aniversário! Joe lhe deu algum presente?
A suspeita de que Ashley havia comprado aquelas roupas íntimas
desapareceu e foi substituída por um tom de malícia na voz de Demi.
— Sim. E acho que vou usá-Io hoje à noite.
Ashley ficou confusa, e Joe fingiu não ter ouvido.
Entretanto, as revelações de Marian encorajaram Demi a agir como nunca havia
feito antes! Estava desinibida e pronta para reconquistar o amor dele, voltando
a ser aquela mulher ardente e sincera que um dia Joe tinha amado com paixão.
— Veja, mamãe, estou nadando! — exclamou Nicky, batendo as
mãos na água com euforia, enquanto Joe o segurava.
— Ótimo, querido! — Demi sorriu com admiração, enquanto
pensava em todas as roupas que havia trazido para as férias. Não podia usar
outra vez o vestido preto e não tinha nada adequado para um jantar de
comemoração. — Será que François poderia me levar até Nice? — perguntou a
Marian. — Ultimamente meus aniversários não têm sido comemorados e não tenho
nada especial para vestir hoje.
Marian deu uma gargalhada.
— Que mudança para uma garota que ontem mesmo disse que não
precisava de nada! — brincou ela. — É claro que ele pode levá-Ia, querida. Você
se importa se eu for junto?
Desta vez Demi estudou cuidadosamente cada loja. Sabia
exatamente o que queria, e Marian olhava para ela surpresa enquanto Demi
examinava e deixava de lado vários vestidos.
— O que você esta procurando? — perguntou ela com
curiosidade.
Demi sorriu.
— Algo que possa ser usado sobre roupas íntimas de seda e
renda.
Por um instante Marian arregalou os olhos, mas logo riu,
surpresa.
— Ah, agora estou entendendo... O misterioso presente de
aniversário! Eu conheço um lugar cuja especialidade é roupa de seda. Você quer
ir até lá?
Meia hora depois elas voltavam para o carro, ambas
satisfeitas com as compras. A boutique tinha exatamente o que Demi desejava. Um
conjunto de duas peças, com a saia de seda num tom adamascado e uma blusa da
mesma cor também de seda, toda bordada, sem mangas e com um recorte embaixo do
busto, debruado com um provocante e fino babado, abotoada na frente com
pequenas pérolas. Ela comprou ainda um par de sandálias altas.
— O preço está razoável para esse tipo de calçado falou Demi
enquanto pagava.
Marion olhou surpresa para ela e falou:
— Agora estou começando a compreender o que Joe quer dizer
quando se refere a outra mulher que existe dentro de você. Ela deve estar
ressurgindo com toda a força, querida.
Demi esperou intencionalmente até que Joe terminasse de se
aprontar para começar a se vestir. Marian tinha lembrado que tais comemorações
precisam de algo muito especial para beber e pediu a Joe que saísse para
comprar.
— Champanhe, claro! — Demi ouviu Marian dizer enquanto Joe a
seguia, saindo da sala de estar da suíte. Héloise preparou um pato com laranja
delicioso!
Quando ele desapareceu, Demi tomou uma ducha demorada,
ensaboando-se com os sais de banho que costumava usar.
Quando saiu da água, enxugou-se e aplicou delicadamente um
creme perfumado sobre o corpo todo. Suas mãos hesitaram ao tocar as peças de
seda. Nunca em toda a vida tinha tentado deliberadamente seduzir um homem como
estava fazendo naquela noite, e por isso mesmo não podia nem pensar em falhar.
Quando se olhou ao espelho, com a saia e as sandálias, percebeu que seu
bronzeado já estava acentuado. Ia colocando a blusa quando a porta se abriu e
Joe entrou, ficando paralisado ao vê-Ia. Parecia sinceramente satisfeito em
observá-Ia e então, com um sorriso compreensivo, disse brincando:
— Muito bem, afinal eu estava certo. — Correu os dedos pela
blusa de Demi, e ela estremeceu. — Gostaria de saber o motivo dessa mudança tão
repentina! — Antes que Demi pudesse responder, ele se afastou, deixando-a
desapontada.
— Enquanto você termina de se vestir eu vou descer e ver
Nicky. A menos, é claro, que você precise de ajuda.
Olhou-a com desejo, e Demi desejou ardentemente ter a
coragem de dizer: "Sim, por favor..." No entanto, não conseguiu
reagir, ficando totalmente emudecida e, embora a olhasse com carinho, Joe saiu
do quarto, deixando-a sem outra alternativa a não ser colocar ela mesma a blusa
e abotoá-Ia com os dedos trêmulos. .
Quanto à maquilagem, Demi passou apenas um pouco de rímel e
batom. O leve roçar da seda em sua pele fez aumentar ainda mais o desejo de que
Joe a tocasse e a possuísse demoradamente.
Ashley olhou, carrancuda, quando ela apareceu na sala de
jantar. Demi mediu-a dos pés à cabeça, observando o modelo do vestido e
detendo-se no decote: estava usando um vestido preto e justo, mas a cor escura
deixava a pele dela muito pálida e, honestamente, Demi achou que, entre as
duas, naquela noite ela, sem dúvida, estava mais atraente.
Eles iniciaram o jantar com um refrescante coquetel de
frutas, seguido de um suculento pato assado com molho de laranja e alguns
legumes cozidos, servido de uma maneira como só os franceses sabem fazer.
Demi tomou o vinho branco, corando a cada vez que percebia
Joe olhando-a.
Depois comeram crepes suzetes com morangos frescos e, apesar
de ela recusar, Joe insistiu em servi-lhe champanhe.
Quando terminaram, Demi sentia-se um pouco tonta.
Marian sugeriu que fossem para a sala de estar, onde começou
a conversar com Ashley, sobre a mãe dela.
Demi molhou os lábios, desejando que Joe viesse sentar-se a
seu lado. Ele vestia uma roupa social que o deixava um pouco mais magro.
— Acho que vou me deitar — disse Demi, esperando que ninguém
percebesse que estava hesitante. Eram apenas dez horas, mas com certeza Joe
também iria... Olhou para ele, desejando que se virasse e dissesse que iria
acompanhá-Ia, mas Joe permaneceu calado, e Demi percebeu que Marian a fitou com
simpatia quando ele se virou para sair da sala.
No quarto ela se sentou na beira da cama, tentando prestar
atenção a cada som, mas quase meia hora se passara e nem sinal de Joe!
As esperanças começaram a desaparecer e a excitação começou
a transformar-se em tristeza. Será que não tinha deixado às intenções bem
claras ou será que ele não estava mais interessado... .
Demi esperou mais quinze minutos e então saiu da casa,
seguindo o caminho que levava à praia. O barulho das ondas contra as pedras era
reconfortante. A noite estava quente e havia uma suave brisa. Dominada por uma
necessidade incompreensível, Demi tirou vagarosamente a saia e a blusa de seda,
colocando-as com cuidado fora do alcance da água. Quando a brisa começou a
bater em sua pele ela hesitou, mas depois acabou se despindo completamente e
entrou no mar.
Nunca tinha nadado à noite e muito menos despida, e agora se
sentia um pouco chocada com aquele impulso. Mas experimentar a sensação da água
do mar batendo em seu corpo nu era deliciosamente erótico. Ela se jogou contra
as ondas, segura por saber que a praia era particular.
Quando viu uma sombra vinda pela praia, quase morreu de
susto. Ela boiava imóvel, enquanto o vulto se dirigiu à pequena pilha de
roupas, então, vagarosamente, retirou as suas, entrando no mar com passos
largos até que conseguisse nadar tentando alcançá-Ia.
— Joe... — murmurou num suspiro e calou-se, pois a intensa
excitação alertou-a de que era melhor ficar quieta.
Nadou languidamente, afastando-se, quando ele quase chegou
perto. Estava certa de que Joe a seguiria e então, quando a alcançasse, ele a
abraçaria, mergulhando-a sob aquela água, para beijá-Ia até que a falta de ar
os fizesse vir à tona.
— O que está acontecendo com você esta noite? — perguntou
ele, quase sussurrando.
— Estou querendo apenas ser uma mulher, Joe — falou
docemente, tentando escapar dos braços dele e mergulhando, provocante.
Ele nadou com maior rapidez, alcançando-a e abraçando-a
suavemente quando ela se virou em direção à praia.
Ao saírem da água, parecia natural que Joe a carregasse nos
braços, sem dizer nada, até um pequeno trecho de areia que o mar havia limpado
com suas ondas. Ele a deitou no chão, cobrindo-a com o próprio corpo.
Em completo silêncio Demi levou as mãos ao rosto dele,
acariciando-o suavemente antes de beijá-Io com paixão, ao mesmo tempo em que
Joe começava a explorar o corpo dela com movimentos suaves e sensuais.
Ela o beijava com paixão enquanto suspirava a cada toque
leve e atormentador de Joe. Suas mãos começaram a acariciar febrilmente o corpo
dele, enquanto seus lábios beijavam aquela pele com ardor.
Joe suspirou profundamente logo que ela o abraçou, moldando
o corpo ao dele, incitando-o a possuí-Ia num redemoinho de prazer interminável.
Não havia mais lugar para vergonha ou timidez quando Demi
passou possessivamente os braços pelo pescoço de Joe, prendendo os lábios aos
dele e sendo novamente atormentada com aquelas carícias másculas e sensuais.
A demora de Joe em possuí-Ia era insuportável, e
Demi contorcia-se febrilmente sob ele, implorando o que ele se negava a
fazer, com os braços tentando trazê-Io de novo para junto de si.
Ele segurou as mãos dela, afastou ainda mais o próprio corpo
e, olhando para o rosto de Demi, disse com a respiração ofegante:
— Agora me diga que você não é uma mulher, Demi, e que não
sabe o que é sentir e querer possuir alguém quando se está morrendo de desejo.
O pânico tomou conta dela, Joe não a olhava mais com paixão,
mas com um olhar tão frio que a deixou amedrontada.
— Vou lhe ensinar mais alguma coisa... — Joe continuou — e
tenho certeza de que você será uma excelente aluna, porque vou lhe mostrar o
que é se sentir rejeitado como você vem fazendo comigo o tempo todo. E para lhe
explicar isso não preciso fazer absolutamente nada, preciso, Demi? — ele
perguntou, com maldade. — A única coisa que devo fazer é sair daqui nesse
momento. Nada de sexo sem amor, você me disse uma vez, e é exatamente o que
penso. Foi bom enquanto durou, mas agora acabou.
Sem dizer mais nada, ele se virou e a deixou deitada na
areia. Enquanto seu corpo doía de frustração, Demi sentia-se humilhada e
destruída, insegura diante daquela recusa. Porém, sabia que se Joe voltasse e
resolvesse possuí-Ia, mesmo assim não teria forças para resistir.
Depois de algum tempo conseguiu voltar para o quarto.
Não havia sinal de Joe, embora ela nem esperava que ele
estivesse lá. Tentou esquecer o desejo que seu corpo sentia.
Havia ficado tão atormentada com os próprios sonhos, quando
Marian lhe contou tudo, que nem pensou no que a rejeição tinha representado
para Joe e os sentimentos dele.
Era natural que ele quisesse se vingar. Ela também não havia
sentido a mesma ânsia de vingança? Agora estava magoada, pois Joe a vencera,
como tinha prometido. Experimentou o sofrimento decorrente daquela rejeição e
nem por isso ficou com ódio dele. Pelo contrário, eles estavam vivendo o tempo
todo num grande equívoco.
Deveria ter conversado com ele primeiro, pensou com
tristeza. Deveria ter explicado que nunca recebera aquelas cartas e que nunca
soubera o que lhe havia acontecido.
Será que isso teria adiantado? Será que a amargura dele já
não era profunda demais? Se Joe ainda tivesse um mínimo de sentimento por ela,
certamente esta noite teria deixado todas as barreiras de lado...
Demi começou a se sentir cansada. Depois do que acontecera,
estava fraca demais para pensar em qualquer solução viável para sua situação.
Poderia encarar Joe novamente sabendo como havia se exposto a ele? "Nada
de sexo sem amor", ele afirmou, e agora Joe sabia que ela o desejava, pois
tinha se traído abertamente, encorajando-o a possuí-Ia.
As lágrimas começaram a correr pelo seu rosto enquanto Demi
se virava de um lado para o outro na enorme cama vazia. Ela precisava ser
perdoada...
Adorei o cap, posta mais um hj !
ResponderExcluirNNOOOSSA amei o capítulo... wow posta logo...
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